Pronomes são Rohypnol (1)

Brina Falcão
8 min readJan 5, 2020

Por Barra Kerr

Texto original

Este é um artigo instigante que analisa o impacto psicológico do uso de pronomes preferidos. Ele foi originalmente publicado no Mumsnet, a autora foi bloqueada por 7 dias e o post foi removido. Foi então hospedado no Medium e mais uma vez removido. É importante que tenhamos acesso a diferentes ideias e opiniões e todos nós precisamos e merecemos a oportunidade de tirar as nossas próprias conclusões sobre questões como estas.

Estamos felizes em receber este artigo como guest post, com a gentil permissão da autora.

Tatsuya Ishida

Há muita conversa sobre pronomes agora. Especificamente, pronomes “preferidos”. Isso geralmente significa quais os pronomes que uma pessoa prefere que outras pessoas usem quando elas são o assunto que está sendo discutido. “É assim que eu quero que você fale sobre mim”.
Quase sem exceção, as pessoas que solicitam, ou exigem, que outras pessoas falem sobre elas usando pronomes específicos, estão pedindo pronomes associados ao sexo oposto ao delas. Apenas por educação. Uma cortesia.
Eu ouvi muitas pessoas me dizerem que não se importam de fazer isso, como cortesia, embora seja necessário um esforço para manter a ginástica mental de perceber um sexo, mas consistentemente usar pronomes do outro. Essa é uma escolha pessoal e eu respeito as razões pelas quais algumas pessoas fazem isso.

Eu também ouvi muitas pessoas declararem que qualquer pessoa que não obedeça isso (geralmente uma mulher) é odiável, mesquinha, hostil e desagradável. “Misgendering” [errar o pronome] é discurso de ódio. Eles dizem. Mas eu me recuso a usar pronomes femininos para qualquer homem.

Porque pronomes são como Rohypnol.

Um dos maiores obstáculos para impedir a erosão dos direitos das mulheres é o uso “por cortesia” de pronomes e nomes preferidos. As pessoas subestimam gravemente o impacto psicológico dessa obediência, tanto para si quanto para outras.

Pronomes são como Rohypnol para as defesas do seu cérebro.

Você, obviamente, duvida desta afirmação absurda que acabei de fazer. Você não é influenciada por tais trivialidades, e eu entendi errado. Compreendo que você pense assim, mas, por favor, fique comigo mais um pouco e tente esta rápida experiência.

  1. O CUSTO PARA VOCÊ MESMA DE USAR PRONOMES PREFERIDOS:
    Você já ouviu falar do STROOP TEST? [em inglês]
    Na primeira parte deste teste você deve dizer a cor da palavra, não o que a palavra diz. Por exemplo, para a palavra vermelho [escrita em verde], você deve dizer “verde”. Inicie o cronômetro quando começar a ler, leia a lista o mais rápido possível. Pare o cronômetro quando acabar de ler e anote o tempo.

Na segunda parte, faça o mesmo com o segundo quadro e compare os tempos.

Essa é uma conhecida experiência, chamada “nomeie a cor”, sobre um fenômeno psicológico. Um experimento rápido e simples em que você tem que dizer a cor das palavras escritas na sua frente. Simples assim. Exceto a velocidade e precisão de suas respostas são fortemente impactados por qualquer incongruência entre a cor que você vê e a própria palavra.

Se você gosta de testes interativos divertidos, experimente. Demora poucos minutos para ser concluído. Compare a diferença dos seus tempos entre a primeira parte e a segunda parte da experiência.
Você descobrirá que precisa lutar conscientemente contra o conflito causado por cada inserção de dados em seu cérebro. E isso deixa você confusa, distraída, mais lenta, frustrada e fatigada.
Forçar nossos cérebros a ignorar a evidência diante dos nossos olhos, ignorar um conflito entre o que vemos e sabemos ser verdadeiro, e o que se espera que digamos, nos afeta.
USAR pronomes preferidos faz o mesmo. Eles alteram sua atenção, sua velocidade de processamento, sua automaticidade. Talvez você descubra que isso lhe deixa ansiosa. Você presta menos atenção ao que quer dizer e mais ao que se espera que você diga. Isso te atrapalha, te confunde, te faz menos reativa. Isso não é bom.

2) O CUSTO DE OUVIR OU LER PRONOMES PREFERIDOS DITOS POR OUTRAS PESSOAS:

Tente este próximo experimento. Durante uma semana, re-traduza todos os artigos e comentários sobre transgêneros que encontrar de volta aos pronomes baseados no sexo, substantivos e nomes originais. Reescreva-os de volta à verdade contundente e, em seguida, leia-os novamente. Fazer este exercício apenas em sua mente fará bem, mas a edição em uma tela é melhor. Converta os pronomes femininos de volta ao masculino; use sobrenomes em vez de primeiros nomes e converta termos como “mulher trans” de volta para “homem”.

Melhor ainda, se você souber o nome original da pessoa, use-o, seja David, ou Rhys, ou Ashton, ou Jonathan. “Uma rosa com qualquer outro nome, ainda teria o mesmo cheiro bom, certo? Isso não deveria ser importante.”
Ninguém será ferido ou afetado por esta experiência privada. É totalmente entre você e sua própria mente resiliente. (Tente não ser banida de algum lugar durante este experimento)
Leia sua versão traduzida novamente.

Se esses pequenos atos de complacência com pronomes preferidos são concessões verdadeiramente inocentes feitas como cortesia aos outros sem nenhum custo para você ou para outras mulheres (embora, como visto acima, o potencial de banimento como evidência do contrário é significativo), então este exercício privado não mudará nada, não custará nada, não afetará ninguém. Você vai sair pensando, “sim, como eu achava, é muito barulho por nada.”

Exemplo de parte de um artigo sobre agressores do sexo masculino com os pronomes *corrigidos*:

“*Ele* foi condenado pelo condado de Kirkcaldy a três anos de trabalho comunitário no final de janeiro. Em fevereiro do ano passado, *ele* filmou uma garota em um cubículo do banheiro com um telefone celular e um mês depois *ele* forçou outra garota para dentro de um cubículo. *Ele* agarrou o rosto dela e ordenou que ela tirasse as calças.”

Afinal, nada *deveria* mudar simplesmente com a alteração de pronomes e nomes, deveria? Você já conhece o sexo real do sujeito sobre o qual está lendo. Os pronomes, masculinos ou femininos não acrescentam informações adicionais.
Como eles podem de alguma forma alterar sua percepção ou influenciá-la quando você já conhece todos os fatos? “Eles são irrelevantes, a concessão mais fácil de fazer. Não vale a pena considerar isso, é inconsequente.” Certo? Cognitivamente, você deveria estar imune aos efeitos desse crossdressing(2) linguístico. Pronomes são irrelevantes, então você os concede facilmente, porque eles não têm poder para influenciá-la, já que você já vê claramente. Certo?

[E você pode confessar aqui, tudo bem. Você pode pensar que a minoria das mulheres que se recusam a obedecer aos pronomes são apenas implicantes, que não conseguem pensar estrategicamente, não sabem quando desistir, provavelmente são extremistas. Não fazem nenhum favor a si mesmas, até prejudicam sua própria causa. Irracionais]

Mas tente o experimento. Traduza pronomes e referências de volta para o sexo masculino. Insira “nomes mortos”(3) ou use sobrenomes. (Ninguém vai saber, só você) Leia uma segunda vez. E seja honesta consigo mesma.
Você se sente diferente ao ler desse jeito?
Você reage de maneira diferente?
Como está sua ansiedade?
Você está mais irritada?
Você se sente mais assustada?
Seu senso de injustiça é alertado?
Em qual nível suas defesas naturais estão?
Você pode descobrir que, apesar de si mesma, você tem uma reação visceralmente diferente ao que está diante de seus olhos. Mesma história, mesmos jogadores, mesmo conhecimento básico.
Pronomes diferentes, reação diferente.

Pronomes são como Rohypnol

Eles entorpecem suas defesas. Eles mudam suas inibições. Esse é o objetivo. Você tem a experiência de uma vida inteira aprendendo a estar alerta para “ele” e a relaxar com “ela”. Por uma boa razão. Esta resposta instintiva mantém você segura. Não é nem uma coisa consciente. É como quando seus pelos se arrepiam. Seu cérebro subconsciente está ajudando você a não ser comida pelo tigre dente de sabre que seus olhos ainda não notaram.

“Ande como se houvesse três homens andando atrás de você” — Oscar De La Renta

Oscar provavelmente não antecipou a resposta instintiva que suas palavras provocaram nas mulheres.

A incongruência dos pronomes também faz seu cérebro trabalhar muito mais; não apenas quando você os está usando, mas quando você os recebe como informação. Você está trabalhando constantemente para manter essa história em sua mente. Masculino ou feminino? De novo, qual deles? Concentre-se mais. Ignore seus instintos, ignore sua reação.
E isso é só você. Você já está ciente de todas as informações pertinentes, já está alerta, você sabe o resultado, você não está comendo mosca.
E você ainda é afetada emocionalmente e instintivamente por pronomes, substantivos e nomes incongruentes. Apesar de seus esforços para ser imune. Você não está imune a esse efeito. Você pode saber perfeitamente o sexo real de uma pessoa do sexo masculino, e mesmo assim você ainda reagirá de forma diferente se alguém o chamar de ela em vez de ele.
Então, qual é o impacto sobre todos que ainda não estão conscientes, que ainda não compreenderam o que está acontecendo?

Pronomes são Rohypnol

Eles mudam nossa percepção, diminuem nossas defesas, nos fazem reagir de maneira diferente, alteram a realidade diante de nós. Esse é o objetivo. Eles nos entorpecem. Eles nos confundem. Eles removem nossas respostas instintivas de segurança.
Eles funcionam.
Se você fizer este experimento, você ainda pode decidir aceitar e usar pronomes femininos para pessoas do sexo masculino, talvez com um pouco mais de informação, ciente da influência em você e nos outros. Essa é uma escolha que você pode fazer. Pelo menos agora você entende que pode estar voluntariamente suprimindo sua própria resposta instintiva. Seus olhos estão mais abertos.

Talvez você continue a traduzir mentalmente pronomes e nomes “preferidos” de volta à realidade, todas as vezes, como eu faço. Nós nos damos essa chance para entender melhor a realidade da situação diante de nós. Torna-se mais fácil com a prática. Eu quero meus instintos tão intactos quanto possível.
Talvez você dê de ombros. Você pode viver com esse pequeno fenômeno. Ou não funcionou para você, você não vê isso. Mas por favor. Não julgue tão duramente aquelas de nós que se recusam a se submeter, se recusam a obedecer os pronomes preferidos. Há boas razões pelas quais podemos estar fazendo isso, pelo nosso bem e pelo dos outros.

Pronomes são Rohypnol

Eu quero estar alerta. Eu quero que as outras estejam alertas. Eu quero que as pessoas vejam a imagem real, e eu quero aquelas reações instintivas que nós temos quando algo está errado, não entorpecidas, não embotadas por esse truque psicológico barato, mas efetivo. Eu sinto que devo isso a mim mesma, e eu devo isso as outras mulheres.
E mais do que tudo, devo isso às meninas. Eu não quero nem um pouquinho fazer parte no aliciamento delas para desconsiderar seus instintos naturais de proteção. Esses instintos estão lá por uma razão. Para mantê-las seguras. Elas precisam desses instintos intactos e afiados.
E é por isso que não usarei pronomes preferidos.
Usar Rohypnol nos outros não é uma cortesia.

(1) Rohypnol é um benzodiazepínico usado para tratar insônia grave e auxiliar na anestesia.

(2) Cross-dressing é um termo que se refere a pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto.

(3) Nomes usados antes da “transição”.

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Brina Falcão

Harpia: ave gigante; monstro mitológico; mulher ardilosa, megera